
ENTREVISTA – Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé
“Quando se trabalha muito a probabilidade da sorte nos bafejar é muito maior”
Há 30 anos o Grupo Vila Galé abriu o seu primeiro hotel, no Algarve. Hoje, conta com 31 unidades hoteleiras, entre Portugal e Brasil, e está entre as 200 maiores empresas hoteleiras do mundo. Motivos mais do que suficientes para a Ambitur estar à conversa com Jorge Rebelo de Almeida, fundador e atual presidente do conselho de administração deste grupo português, para conhecer um pouco mais de perto a história da Vila Galé e dos seus negócios. 30 anos depois, o empresário continua a trabalhar diariamente para que a sua cadeia hoteleira se mantenha com a atual credibilidade e segurança que demonstra.
30 anos da Vila Galé. Qual o significado deste marco?
Atingir os 30 anos não é surpresa. Não fizemos uma empresa de passagem, mas sim para perdurar no tempo. A surpresa muito positiva pode ser a dimensão que atingimos, pois nunca houve objetivos predefinidos no sentido de atingirmos determinado número de hotéis. A empresa foi-se fazendo à medida que surgiram as oportunidades. E hoje temos a satisfação de ter uma empresa sólida, consistente, com ética, valores e princípios. Isso dá a todos os que andam por esta casa muita satisfação, porque esta não é mais uma empresa. A Vila Galé apresenta, junto à banca e ao mercado, uma segurança e transparência totais, o que não acontece com parte do tecido empresarial português. Desde a primeira hora que sempre fomos um livro aberto. Às pessoas que aqui trabalharam e trabalham, sempre lhes demos a oportunidade de conhecerem a realidade do negócio, ou seja, não temos nada escondido. O que se ganha é reinvestido na empresa, direta ou indiretamente. Estamos felizes, mas não dá para adormecer. Passo a vida cada vez mais preocupado, porque os exemplos que vemos à volta nos indicam que fazer qualquer coisa dá muito trabalho, mas se é para “desfazer” acontece tudo numa velocidade vertiginosa. Isto significa que temos que andar muito atentos ao que se passa ao nosso redor e perceber para onde devemos ir. Costumo dar o exemplo de algumas empresas de uma dimensão gigantesca, prestigiadas, que desapareceram porque se distraíram um pouco. Hoje há elementos que nem conseguimos entender bem, como o facto de haver negócios de grande sucesso de modelos completamente diferentes, por exemplo, as plataformas digitais. O que é a Booking, a Uber, a Airbnb? São novos negócios que foram criados. Sendo assim faço um esforço muito grande para perceber qual é o futuro da hotelaria. Há muitos que afirmam que este negócio não pode mudar, tem que ser feito basicamente com o mesmo modelo, mas não sei se não poderá mudar. Não dá para ficarmos à espera do que nos irá acontecer, temos de tentar antecipar para onde vai o futuro. Por isso continuo a meter a mão na massa para não perder as rédeas do negócio.
Ao longo destas três décadas, trabalhou com muitos profissionais; quer nomear alguma dessas pessoas?
Quando se atinge esta idade é difícil estar a nomear, porque me vou esquecer de alguém; e eu procuro ser super-agradecido. Procuro não esquecer daqueles que nos ajudaram a crescer.
Qual a principal característica deste grupo hoteleiro?
Estamos permanentemente a inventar coisas, não a repetir hotéis, para dizermos que temos mais. Hoje temos uma diversidade muito grande de oferta, que faz a diferença relativamente a outros grupos. Os nossos hotéis têm um denominador comum, no modelo de gestão e atendimento/simpatia, que faz diferença também perante muita da nossa concorrência. Conseguimos ganhar uma empresa em que as pessoas são empenhadas. A principal característica da Vila Galé é muito trabalho e o exemplo vem de cima para baixo, e vice-versa. A empresa sempre se norteou por um estilo em que se trabalha muito. Quando se trabalha muito, acontecem coisas. Há muitos que dizem que há sorte, o que eu digo é que quando se trabalha muito a probabilidade da sorte nos bafejar é muito maior. A empresa tem vindo a crescer, não só no setor da hotelaria, mas temos ainda uma característica que é fazemos os projetos, construímos os hotéis, para além de termos outros negócios paralelos, como o vinho, azeite, fruta, entre outros.
Como tudo começou e porquê a hotelaria?
Tirei o curso de Advocacia enquanto trabalhava no Ministério das Obras Públicas, formei-me, tive uma grande sorte, porque além de querer tirar este curso gostei de ser advogado. O facto de ter tirado o curso e trabalhar marcou toda a minha vida, porque aprendi qualquer coisa sobre projetos e construções no Ministério das Obras Públicas. A minha advocacia foi evoluindo naturalmente para uma situação em que comecei a trabalhar muito para o setor da construção e turismo. Tendo em conta que estava a lidar com projetos chave-na-mão para clientes, pensei por que não fazer um próprio? Foi assim que nasceu o primeiro projeto Vila Galé. Ao contrário do que muitos especialistas defendem, não havia nenhum planeamento estratégico na altura. Foi fazer um primeiro hotel que apresentasse alternativas. Em qualquer negócio, as pessoas têm que ter duas ou três soluções alternativas caso o projeto não corra como o esperado, porque não basta só desenvolver o projeto de acordo com determinada linha. Tem de haver flexibilidade de ajustamento ao correr do negócio. No arranque contámos com outros dois acionistas, sendo que estes nunca participaram na gestão, sendo eu o único executivo. Sendo assim o primeiro hotel Vila Galé não era uma unidade convencional, mas sim um hotel com apartamentos, porque me dava mais saídas possíveis se a parte hoteleira não corresse bem. O que acabou por prosperar o negócio foi uma combinação entre hotelaria e uma operação de time-sharing, inovadora, feita aos balcões de dois bancos, com segurança, garantia e seriedade, a dar uma nova roupagem ao produto. Ainda hoje temos muitos clientes desta operação no primeiro hotel satisfeitos com o que compraram há 30 anos. Se calhar, caso não tivesse sido feita esta operação de time-sharing, a Vila Galé não teria tido a força financeira com que ficou.
Hoje seria possível começar de novo?
Há coisas que são mais fáceis de concretizar hoje e outras mais difíceis. Naquela altura, havia um conjunto importante de incentivos financeiros e fiscais concedidos às empresas. Hoje está francamente difícil até obter apoios, pois são virados para as pequenas e médias empresas, o que até pode fazer sentido. Por outro lado, hoje as condições do mercado de crédito são mais favoráveis, se bem que ao longo destes 30 anos houve períodos com abertura de crédito muito grande, o que aliás deu os resultados que estão à vista, com financiamento de projetos sem consistência. Os bancos são mais seletivos hoje, exige-se mais a uma empresa, mas há uma abertura de crédito desde que haja garantias e um projeto bem estruturado. A Vila Galé hoje não tem problemas a esse nível, pois criou uma reputação, ganhou credibilidade e respeitabilidade.
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In Ambitur | 30-11-2018
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